-
Dentro e fora
ongoing
.
De como as plantas procuram água.
Que coisas haverá para fotografar numa vida por dentro. As paisagens do espírito e do pensamento - pela vitalidade com que se inscrevem nos pequenos gestos do dia – não podem ser só uma imensa natureza crepuscular precedida de noite. Todos temos curiosidade de saber de que forma a natureza exterior, continua o seu território na vastidão que cada Homem pressente dentro de si.
O fotógrafo procura com a máquina. Movimenta-se de forma precisa relativamente à realidade, sondando de diferentes perspetivas a imensa possibilidade que as coisas têm de ser olhadas. Quando pressente um encontro pára; procura através da objetiva, regista aquele suspiro com um clique - gatilho de uma longa espera de revelação.
De vez em quando os contemplativos têm visões, confirmações e momentos de consolação, como fotografias. Depois voltam de novo ao tempo líquido dos dias, às escorrências que alimentam a sede dos campos, e ao acumular cristalino das moções do espírito em sítios de águas aparentemente paradas. Vivem na contemplação da quietude das árvores, meditando na forma como se mata a sede na profundidade, ou se mergulha os galhos na luz como braços feitos para se erguerem para o céu.
A água enquanto está na terra sabe que tanto pode ser dada ao fruto e a flor, como pode vir a ser alimento dos espinhos; experimenta como o temperamento da corrente, rapidamente lhe turva a limpidez. Talvez por isso quando olhamos para o tanque, para o lago, para a mina e para a profundidade do poço, aquilo que vemos é a urgência de refletir o céu.
-Já reparaste no brilho dos olhos daqueles que foram retratados? São como a noite; um silêncio misteriosamente cravado de cintilações.
Fotossíntese: A máquina capta a luz através da abertura e do tempo. Tudo aquilo em que a luz tocou, surgirá aos nossos olhos por um processo de revelação. A fotografia é sobre a folha. Vemo-la como uma folha alimentada de luz.
Malheiro Sarmento
Julho 2021